Por que as tartarugas vivem tanto e se reproduzem velhas?
O zoológico de Miami, nos Estados Unidos, anunciou um feito inédito: Goliath, uma tartaruga-das-galápagos de impressionantes 135 anos, tornou-se pai pela primeira vez. Embora o nascimento de seu filhote tenha sido celebrado como um marco histórico, o episódio acende uma curiosidade ainda maior: como é possível um animal viver tanto e manter a capacidade reprodutiva por mais de um século?
A resposta envolve mais do que genética. Para entender os bastidores biológicos dessa longevidade, o Canal do Pet, do Portal iG, conversou com Myriam Elizabeth Velloso Calleffo, bióloga do Instituto Butantan com mais de três décadas de experiência em manejo e pesquisa com répteis.
Um ritmo de vida diferente do nosso
“De maneira geral, os quelônios — grupo que inclui jabutis e tartarugas — têm um metabolismo bastante lento, o que reduz o desgaste celular ao longo do tempo” , explica Myriam. A “calma” fisiológica desses animais está diretamente associada ao seu estilo de vida: pouco gasto energético, alimentação baseada em vegetais e, no caso de espécies gigantes como as de Galápagos, poucos predadores naturais na fase adulta.
Essa combinação se traduz em uma expectativa de vida incomum no reino animal. Enquanto humanos vivem em média 70 a 80 anos, uma tartaruga-das-galápagos pode ultrapassar os 150 com relativa facilidade. A famosa Harriet, por exemplo — levada ainda jovem por Charles Darwin às Ilhas Galápagos — morreu aos 176 anos em 2006, na Austrália.
“ É difícil converter anos de tartaruga para anos humanos de forma exata, mas se pensarmos em proporções, um ano na vida de um desses répteis equivale a uma fração muito menor do nosso ciclo biológico. O desenvolvimento deles é mais demorado e gradual, e a maturidade sexual também” , aponta a especialista.
Goliath
O caso de Goliath é emblemático. Nascido em 1890 na ilha de Santa Cruz, no Equador, ele chegou aos Estados Unidos em 1929 e vive desde 1981 no Zoo Miami. Apesar de já ter copulado com diversas fêmeas ao longo das décadas, esta foi a primeira vez que um filhote seu nasceu — após um processo delicado de incubação que durou 128 dias. “Pode ser que ele tenha tentado a reprodução por mais de um século. Mas sem dados precisos sobre a fecundação anterior, não é possível afirmar” , pondera Myriam.
A longevidade como vantagem evolutiva
Segundo Myriam Calleffo, a vida longa dos quelônios não é apenas uma curiosidade: é uma a daptação evolutiva. “Como eles demoram para atingir a maturidade, viver mais tempo aumenta a janela de oportunidades reprodutivas. É uma estratégia da natureza para garantir a continuidade da espécie.”
Além disso, tartarugas gigantes como Goliath desempenham papéis fundamentais nos ecossistemas. “São importantes dispersoras de sementes, contribuindo para a regeneração do solo e das florestas. Elas são verdadeiras engenheiras da biodiversidade”, diz a bióloga.
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