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Entenda se o Brasil corre o risco de mega-apagões recorrentes
Publicado em 19/10/2025 08:42
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Apagão deixou o país inteiro no escuro no último dia 14 de outubro

O  apagão que afetou todos os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal nesta terça-feira (14) deixou uma dúvida no ar: quais as chances de problemas desta escala se tornarem recorrentes?

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O  Portal iG  ouviu especialistas para entender se existe a possibilidade do blecaute generalizado se repetir com frequência.

Segundo fontes oficiais, um incêndio em um reator na subestação de Bateias, em Curitiba, foi responsável pela interrupção do fornecimento de eletricidade nos quatro subsistemas (Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte).

O reator atua para manter a estabilidade e a qualidade da energia que é transportada pelo sistema de transmissão.

O engenheiro eletricista Jorge Miguel Ordacgi Filho explicou ao iG que os apagões ou blecautes, tais como o ocorrido na madrugada de terça-feira, são perturbações de caráter sistêmico, "decorrentes de cadeias de eventos como qualquer outro infausto de natureza catastrófica" .

"Em outras palavras, são eventos pouco frequentes desencadeados por contingências múltiplas e tipicamente iniciados por um curto-circuito", explicou o especialista.

Segundo ele, em 2023 a Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN) sofreu 3.491 perturbações e apenas uma com característica semelhante, ou seja, somente uma perturbação sistêmica.

Em 2024, nenhuma perturbação sistêmica foi percebida em âmbito nacional. Estes fatos demonstram a robustez do SIN, diz ele.

Quando questionado se o apagão semelhante pode ocorrer novamente, Ordacgi Filho diz que não se pode prever como e quando ocorrerá um novo distúrbio desse porte, mas os registros mostram que eles não são recorrentes.

O Brasil registra cerca de 3 mil perturbações no sistema anualmente, mas que geram impacto bem menor.

"As perturbações de caráter sistêmico, como a registrada na terça de madrugada, são eventos desencadeados aleatoriamente, sem padrão, e, portanto, são imprevisíveis" , reforça.

Ainda segundo engenheiro, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) analisa a evolução do SIN, considerando acréscimo de novos componentes, como unidades geradoras, linhas de transmissão e transformadores, e determina a instalação de esquemas automáticos de preservação da integridade do sistema elétrico.

Essas medidas impedem a formação das cadeias de eventos capazes de desencadear perturbações de caráter sistêmico, conforme comprovam as estatísticas anuais.

"Isto naturalmente é feito no limite da capacidade humana, visto que as combinações e arranjos dos elos das cadeias de eventos são praticamente infinitas e impossíveis de se prever e prevenir totalmente", enfatiza.

Sistema interconectado

iG também ouviu o engenheiro elétrico Neilton Fidelis sobre a possibilidade de episódios recorrentes.

Ele enfatizou que o efeito cascata de interrupção do fornecimento de eletricidade no SIN ocorre pela própria natureza do sistema, que é fortemente interconectado, isto é, a quase totalidade das usinas, linhas de transmissão e distribuidoras do país estão ligadas entre si.

Um acidente em um ponto da rede, mesmo de pequena dimensão, tem potencial de sobrecarregar todo o sistema, em um efeito dominó, provocando desligamentos sucessivos em diversas regiões, como o ocorrido.

"Mas as informações divulgadas indicam que a falha foi resultado de um acidente localizado, sem vínculo com restrição de oferta ou instabilidades estruturais no sistema. E, sendo um acidente, não se pode projetar novos apagões que tenham a mesma natureza", destacou.

Ainda de acordo com Fidelis, a diversificação da matriz energética brasileira, com a maior participação de fontes intermitentes, como a eólica e a fotovoltaica, é positiva do ponto de vista ambiental e de segurança do suprimento.

"No entanto, impõe novos desafios técnicos para a estabilização do sistema elétrico, tornando mais complexa a sua operação e podendo, com isso, aumentar a vulnerabilidade operacional do SIN" , pondera.

Para se evitar essas perturbações, ele salienta que é fundamental reforçar e modernizar o sistema de transmissão e controle, ampliar a redundância na proteção do SIN — reduzindo os desligamentos em cascata — e manter sua manutenção em padrões rigorosos.

Consumidor

iG ainda questionou os especialistas sobre as medidas que o consumidor podem adotar para evitar prejuízos em casa com esse tipo de apagão.

Segundo Jorge Miguel Ordacgi Filho, os danos a eletrodomésticos são consequentes de eventuais falhas na qualidade da energia, ou seja, são passíveis de ocorrer quando a tensão (voltagem) disponibilizada pelo SIN ultrapassa os limites preconizados na regulamentação setorial.

Durante perturbações de caráter sistêmico podem surgir, eventualmente, condições propensas a causar danos a eletrodomésticos, que têm caráter transitório durante o desencadeamento do distúrbio.

Ao longo do restabelecimento das cargas que deixaram de ser supridas também podem ocorrer energizações de áreas com condições inadvertidamente inadequadas de Qualidade de Energia.

Dessa forma, Neilton Fidelis aponta algumas medidas que o consumidor residencial pode adotar, percebendo condições anormais no fornecimento de energia elétrica.

Uma delas é instalar dispositivos de proteção contra surtos de tensão. Também é importante desligar e desconectar aparelhos sensíveis durante a falta de energia.

E ainda, segundo ele, após o restabelecimento, é prudente o consumidor aguardar alguns minutos antes de voltar a ligar os equipamentos, verificando se o sistema está estável.

Fonte :- Entenda se o Brasil corre o risco de mega-apagões recorrentes

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